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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Voltar ao lugar onde já se foi feliz



Depois do almoço de domingo, e para não acordarem a bebé que dormia a sesta, sempre que o tempo a tal convidava, o pai levava-as a passear de bicicleta. Seguiam por trilhos que julgavam secretos, espreitavam os ninhos, chamavam bosque ao velho Carvalhal que tinha calhado ao avô em herança e jardim às clareiras onde se sentavam a descansar antes de regressar a casa. Para lá do bosque ficava uma jeira de terra onde no verão  havia milho alto e uma vala onde de inverno corria um ribeiro. O pai chamava-lhe o Salto do Lobo. O nome tinha tanto de assustador como de fascinante. "Ainda há lobos, pai? Podemos ir procurá-los? Se vier um lobo salvas-nos, pois salvas? Vamos explorar, vamos?". "Não, o terreno tem outro dono".

Um destes domingos à tarde sem um bebé a dormir a sesta e por falta de convite do tempo, o pai pergunta-lhes se se lembravam do Salto do Lobo. "O dono morreu há quase de trinta anos e aquilo hoje está para lá um silveiral desprezado. Ontem veio cá a filha perguntar se lho comprava. Aquilo não vale nada e o que ela pede não é nenhuma fortuna. Vocês têm algum interesse em ficarmos com a terra?"

"Aos dezoito dias do mês de Maio de 2016, compareceram neste cartório..."

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